sexta-feira, 18 de janeiro de 2013



Maçonaria – A Liberdade Religiosa e o Início da Maçonaria Moderna



Vamos falar um pouco da Maçonaria moderna...
Apesar da Maçonaria apresentar princípios católicos, nos séculos anteriores, ela não mais o faz no futuro. Porque isso aconteceu?
A Maçonaria tem seus regulamentos desde muito tempo, mas não havia uma organização que funcionasse a nível mundial, e esse cenário só começou a mudar após a fundação da Primeira Grande Loja, na Inglaterra.
Creio que a maioria dos leitores já ouviu falar que a Maçonaria Moderna foi fundada no ano de 1717. 
Em 1717, a formação da Primeira Grande Loja se deu através da reunião de 4 Lojas Londrinas, que se uniram para fundar a Grande Loja.
Não é o objetivo desse post tratarmos dos motivos que podem ter levado a essa fundação, portanto, não vamos nos ater nisso. O que creio ser importante ressaltar é que existiam outras Lojas Maçonicas por toda a Inglaterra, e que nenhuma delas estava envolvida nesse processo. Aliás, existiam outras Lojas na própria cidade de Londres.
É possível dizer que existiam motivos mais locais do que universais na Fundação dessa Grande Loja. Depois da fundação foi escrita a primeira Constituição Maçônica, em 1723, conhecida como “Constituição de Anderson” (apesar de também ter sido escrito pelo maçom Théophile Desaguliers).

Constituição de Anderson

Como já vimos anteriormente, podemos encontrar referências Católicas em vários documentos maçonicos anteriores a Maçonaria Moderna. Isso não acontecia mais depois de ter sido fundada a Primeira Grande Loja. A Maçonaria agora tinha, aparentemente, um caráter liberal, e vários pontos da Constituição de Anderson nos ajudam a reforçar essa ideia, como:
“Todo maçom é obrigado, em virtude de seu título, a obedecer a lei moral. E como compreende bem a Arte, ele jamais será nem um ateu estúpido nem um ímpio libertino. Da mesma maneira que, nos tempos passados, os maçons eram obrigados, em cada país, a professar a religião de sua pátria ou nação, qualquer que ela fosse, nos tempos atuais nos pareceu mais adequado não obrigar além dessa religião na qual todos os homens estão de acordo, deixando cada um livre para ter sua opinião própria.
A mesma consiste em serem homens bons e verdadeiros, homens de honra e probidade, quaisquer que sejam a denominação ou as crenças pelas quais possam se distinguir. De onde segue que a Maçonaria é o Centro de União e o meio de suscitar a verdadeira amizade entre as pessoas. Sem ela, permaneceriam em um perpétuo distanciamento”.
Com esse pensamento vemos que não se acredita ser adequado que os Maçons sejam obrigados a “professar a religião de sua pátria ou não”. Portanto, a pergunta do porque essa mudança ocorreu poderia estar nesse documento. Uma resposta aparente é a de que agora a Maçonaria presava mais por Ideais do que pela Construção de Lugares Sagrados.
Podemos pressupor então que essa mudança se deu apenas por considerarem que esses ideais eram os mais importantes para a Ordem e para a época?
Bem, quanto a isso, vamos nos fazer uma pergunta: Seria possível que a Maçonaria, como dizia Anderson, continuasse a professar a crença de cada País? Se assim fosse, qual então seria a Religião que a Ordem deveria adotar na Inglaterra, quando nem era possível respondermos a pergunta “Qual a Religião da Inglaterra?”
A Maçonaria funcionaria nesse País se ela não tivesse esse forte ideal nela?
Não estou aqui para dizer que os motivos dessa ideologia de tolerância não eram nobres. Eu mesmo não consigo enxergar um “jogo de interesses” nessa questão, como se isso se tratasse apenas do fato de que, sem essa tolerância religiosa a Ordem não funcionaria como deveria. No entanto, não posso dizer a alguém mais cético, que acredita que foi assim, que ele está errado. Como vocês podem ver, existe um ponto de vista que justificaria isso.
Particularmente eu enxergo um pouco de cada nessa questão. Acho que os ideais sempre foram o foco e, de certa forma, também facilitavam para que as coisas funcionassem harmoniosamente.
Além do mais, dependendo da forma como interpretamos o texto da constituição de 1723, podemos encarar toda essa questão de forma que a “liberdade” não pareça tão livre assim, afinal, ela fala sobre “não obrigar além dessa religião na qual todos os homens estão de acordo”.
Mas o que isso quer dizer? Essa “religião” seria o simples fato de acreditarmos em Deus e na Imortalidade da Alma? Ou será que essa “religião” seria o Cristianismo, independente se ela se tratasse de Católica, Anglicana, Protestante, Presbiteriana e etc?
Talvez, nos dias de hoje, a primeira opção pareça ser a resposta certa, mas será que um Inglês daquela época também iria enxergar a questão dessa forma? Será que para ele seria óbvio que, independente do seu caminho, o mais importante é que simplesmente se acredite em um ser supremo, e que esse ser pode ser de qualquer forma?
Quem sabe!
O texto também fala que alguém que compreende bem a Arte, jamais será um ateu estúpido ou um  ímpio libertino.
Nós sabemos que, mesmo depois de muitos séculos, a Maçonaria ainda se mantém leal ao princípio de acreditar em um Grande Arquiteto para poder ser Maçom, mas isso justificaria classificar todos os Ateus como estúpidos (em inglês a expressão é “stupid atheist”)?
Certamente não. Mas era isso mesmo que ele estava fazendo? Ele estava chamando todos os Ateus de estúpidos?
Existiram autores que apresentaram a possibilidade de que Anderson tenha dito apenas que não se aceitam ateus estúpidos – ou seja, um ateu inteligente seria permitido. Será que isso era mesmo possível, ele estava realmente dizendo que todos os Ateus são estúpidos por serem ateus?
Parece improvável que tenha sido a intenção dele dizer que um ateu inteligente poderia fazer parte da Ordem.

Um Outro Ponto de Vista

Para fazer uma análise por outro caminho, vamor ver o texto equivalente escrito um pouco depois, em 1737, pelo Barão de Scheffer, quando foi lhe dado o poder de fundar Lojas no território da Suécia.
“Um maçom é obrigado por sua condição a submeter-se à moral e, se compreender bem esta regra, ele jamais será um ateu, nem um libertino ímpio. Nos séculos passados, os franco-maçons tinham a obrigação de professar a religião católica. Agora não levamos em conta os sentimentos particulares desde que eles sejam cristãos, fiéis à sua promessa, e pessoas de honra e de probidade, qualquer que seja, por outro lado, a forma pela qual eles possam se distinguir. Dessa maneira, a Maçonaria converteu-se em um centro de união e de verdadeira amizade entre as pessoas; sem essa agradável ligação, estariam para sempre separados e distantes uns dos outros”.
Nesse texto podemos ver algumas diferenças interessantes, quando comparados ao texto de Anderson. Nele vemos que a palavra “estúpido” (stupid) desaparece. O que nos mostra que, nesse caso, poderia se tratar de um ateu estúpido, inteligente, ou qualquer outro tipo.
Aqui também é dito que os Maçons “tinham a obrigação de professar a religião católica”. Se nos basearmos nos outros documentos da época anterior a Maçonaria Moderna é possível dizermos que essa é uma afirmativa verdadeira, pois se tratava sim de referências católicas.
Por fim, o texto fala “Agora não levamos em conta os sentimentos particulares desde que eles sejam cristãos”. Esse ponto nos ajuda a supor que a “religião na qual todos os homens estão de acordo” era sim o catolicismo.
Mas gostaria de lembrar que, não é porque existe esse documento que quer dizer que Scheffer fez a interpretação correta das palavras de Anderson. Pode ter sido apenas a interpretação dele.
No mais, independente de qual foi a relação da Igreja com a Maçonaria Operativa, a Maçonaria agora tem uma outra filosofia. O primeiro conflito com a Igreja não foi exatamente por causa disso, e nem foi nesse momento, no entanto, esse foi o primeiro passo para que, futuramente, esse conflito viesse a ocorrer.
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